Repost de um texto de Peter Wolffenbüttel que vale por uma aula!
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Aí está um assunto muito interessante. Cada vez que ele aparece é opinião para todo o lado. A questão dos vinhos orgânicos, biodinâmicos e naturais.
O que de fato é cada um destes e o principal no que nos diz respeito na saúde e no prazer de beber.
Seriam os vinhos naturais tão melhores? Seriam tão mais benéficos?
Em primeiro lugar vamos tentar definir o que são.
VINHO ORGÂNICO
São vinhos oriundos de vinhedos que não utilizam química sintética. Evitam qualquer tipo de intervenção de fertilizantes e herbicidas. Utilizam-se de animais como galinhas e patos para a limpeza das pragas ou compostos orgânicos para a fertilização, adubação e eliminação de fungos e ervas daninhas.
VINHOS BIODINÂMICOS
Vão além de servirem-se dos mesmos expedientes orgânicos aplicam, filosoficamente as ideias de Rudolf Steiner. A Biodinâmica quer lembrar todos os seres humanos que: A agricultura é o fundamento de toda a cultura, ela tem algo a ver com todos, nas palavras de seu fundador.
O ponto central da Agricultura Biodinâmica é o ser humano que conclui a criação a partir de suas intenções espirituais baseadas numa verdadeira cognição da natureza. Ele quer transformar sua fazenda ou sítio em um organismo em si, concluso e maximamente diversificado um organismo do qual a partir de si mesmo for capaz de produzir uma renovação.
O sítio natural deve ser elevado a uma espécie de individualidade agrícola, segundo o site da Sociedade Antroposófica, maiores interessados leiam aqui.
Assim começamos, não só a respeitar a natureza com a ausência de produtos sintéticos que inclusive nos causam, muitas enormes danos na saúde, o que mais do que louvável. Todos nós queremos e procuramos cada vez mais alimentos e bebidas saudáveis, isto não é novidade para ninguém.
Entretanto, estamos entrando numa seara mais complicada, das crenças. Na biodinâmica, como vimos, ingressamos não só na agricultura saudável como numa filosofia de vida. E para mim aqui começam as variantes, mais filosóficas do que necessariamente de sabor e qualidade no produto final.
Por fim, antes de entrarmos na história dos vinhos naturais, interessante afirmar. Até aqui não falamos do processo de elaboração do vinho, mas sim do trato da agricultura, do trato das vinhas e dos vinhedos. Já os vinhos naturais, além de englobar a agricultura orgânica e não, necessariamente a Biodinâmica, muda, radicalmente, a elaboração dos vinhos com NENHUMA intervenção química de correção ou elaboração, veremos.
VINHOS NATURAIS
Um dos dogmas dos vinhos naturais é elaborá-los sem nenhuma intervenção química corretiva ou mesmo a utilização de leveduras que não sejam as selvagens. Alguns se permitem um mínimo de utilização de Anidrido Sulfuroso o So2. Ele serve como um antisséptico e um conservante do vinho evitando fungos e bactérias que podem estragar o vinho ou mesmo alterar radicalmente os aromas e sabores.
Embora haja poucos vinhos naturais no circuíto comercial há muita discussão sobre o tema. Hoje é, seguramente, um dos mais controversos no mundo do vinho, com fortes adeptos dos dois lados o “natural” e o não.
Um vinho para receber o título de natural deve ser assim tratado desde o campo até a garrafa. Nada de ajustes,de açúcar e acidez, por exemplo, nada de levedura que não seja selvagem ou no máximo aqueles que são cultivadas pelo produtor e muito pouco ou nada de So2. Simplesmente a elaboração como os nossos mais antigos produtores faziam antes da descoberta de leveduras e corretivos químicos largamente utilizados hoje em dia.
MINHA OPINIÃO
Eu entendo que há quatro tipos de vinhos:
OS “NORMAIS” Aqueles que são elaborados com uvas advindas de vinhedos com utilização de todos os elementos químicos sintéticos, pesticidas, herbicidas, fertilizantes e adubos químicos. Na vinícola os vinhos são elaborados com todos os recursos legais e possíveis com intervenções para correção e obtenção da ideia final do vinho almejado.
VINHOS ORGÂNICOS Diferem dos “normais” na lida do vinhedo. Nada de produtos químicos sintéticos para a produção das uvas como falei acima. Entretanto, na vinícola utilizam-se de todos os recursos legais para a elaboração e ajuste para alcançar o vinho desejado.
VINHOS BIODINÂMICOS Aqueles dos produtores adeptos do Rudolf Steiner e sua Antroposofia. Na vinícola utilizam-se de todos os recursos legais e normais para a obtenção de seu vinho.
VINHOS NATURAIS Como vimos acima nada de ajuste e intervenção química desde o vinhedo até a garrafa. Inclusive com a não utilização de leveduras comerciais e um mínimo de So2.
O que me interessa é a minha saúde física e financeira bem como o que almejo no vinho: Harmonia e prazer. De resto entendo que radicalismos de nada servem. A sabedoria está no centro e não nas pontas. Já bebi inúmeros vinhos destas quatro opções. Muitos excelentes, outros bons e alguns sofríveis. Posso afirmar que nenhuma das quatro opções garante vinhos excepcionalmente diferentes e claramente melhores. A meu ver mais uma questão de filosofia de vida do que propriamente vinhos absolutamente melhores.
Claro que busco sempre aqueles alimentos e um estilo de vida que agrida minimamente a mim e a natureza, assim vou sempre optando, naqueles vinhos que me satisfazem, quais os que estão nesta linha.
Sem entrar em discussões quase histéricas. Tal qual a opção entre alimentação onívora, vegana e a vegetariana. Gosto de vinhos saudáveis que respeitem a natureza e mais, a opção de cada qual de nós.
Para os que querem saber mais sobre agricultura biodinâmica indico este site http://www.sab.org.br/…/45-o-que-e-a-agricultura-biodinamica
Peter Wolffenbüttel é advogado, enófilo, participante de julgamento de vinhos, editor do blog www.palcodovinho.com.br , envolvido com vinhos há mais de 30 anos!
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